Enquanto metrôs desabam, palpiteiros palpitam, presidentes exaustos descansam, políticos articulam seus interesses, aviões atrasam, apóstolos e bispas oram sob um sol quadrado, veranistas veraneiam, ali na Ipiranga com a Av. São João, no Brahma, às terças, Cauby continua cantando tão lindo assim.
Espetáculo sempre lotado, mesa reservada com um mês de antecedência, vale chegar cedo para observar o público heterogêneo que vai se acomodando. Demora a começar, a platéia inquieta apesar dos hectolitros de chopp que rolam, enfim ele aparece por uma porta no fundo do salão, cantando e caminha lentamente até o pequeno palco. Lentamente porque o físico já não ajuda e porque é engolfado pelas pessoas de pé que o aplaudem e querem aproximar-se e cumprimentá-lo. Aproximam-se, cumprimentam, fotografam, fotografam, fotografam.
No palco, sentado num banquinho, a figura que caminhava frágil, cresce e se impõe, fino repertório, canta sem esforço, brinca com a voz. Só um trechinho de sua assinatura, Conceição. Cantou Bastidores. Chico teria pensado nele quando a compôs ? Sob medida , é foda interpretada por ele . Um artista com milhares de horas de palco e milhares de metros de roupas faiscantes. O Artista no pleno exercício de encantamento de sua profissão. Emociona.
13 comentários:
Incrível como o Cauby ainda consegue. Há mais de 20 anos, quando gravou com Elis o sensacional 'Bolero de Satã' (no disco 'Essa Mulher'), ele já confessara à sua companheira de microfone que cantava na intuição, pois estava completamente surdo...
E como consegue, Marcio. É impressionante.Se há vinte anos estava surdo e agora ? E muito bem lembrado o Bolero de Satã, que gravação! Os dois magníficos.
Marcio, complementando, se ele fosse americano, lapidados alguns exageros vocais, estaria nas alturas de, por ex., Tony Bennett?
é, acho que teria que cortar certos exageros e vícios vocais, mas aí já não seria o Cauby, né? Aliás, em recente entrevista, ele disse que teve a chance, decadas atras, de 'fazer carreira' nos EUA, mas preferiu voltar pro Brasil...
É, não seria. Li esta entrevista .
Caubi continua genial. Um amigo contou do show no Brahma, deve valer a pena, mesmo.
Ana, vale sim.
Living legend. Há uns dez anos, fui ao All of Jazz, boteco de música ao vivo na Vilompa, na esquina da minha casa, e tocavam os irmãos Peixoto. O Cauby entrou para uma canja e desfiou um longo repertório. Nosso Michael Jackson.
adoro o bolero de satã.
lembro qdo pequena que o cara era tão fera , tão respeitado, que os homofóbicos pai e tios não o desprezavam pela bichisse.
ó, considerando minha família e a época isso é muita coisa.
Pecus ,
mais legendário que o M. Jackson, que nunca cantou em inferninho de cais do porto.
Imagine juntar Cauby e Angela Maria, para ouvir as histórias que devem vivido.
Anna,
pais é tios foram da época em que Cauby usava roupas "normais", que eram rasgadas pelas fãs alucinadas depois dos shows . Acho que causava inveja aos homens. ( Suas roupas, conforme bolação de seu empresário, eram só alinhavadas, para rasgarem fácil ! )
Acima : " ... devem ter vivido ."
Oi, Peri,
Goste-se, ou não, do Cauby, ele é uma figura, uma legenda.
Nunca fez o meu gosto pessoal, e olha que eu sou dos tempos dele, dos imemoriais. Mas, cantando Bastidores, é um arraso. De chorar.
Quando foi para os States, e se deu mal, foi alcunhado de Ron Coby.
Tiro meu chapeu, pro cara!
Abração
fernando cals
Fernando, a admiração pela figura Cauby está além do gosto pessoal/musical.
Abraço
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