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4.6.09

Efemérides

"... Você também é efêmero, Mario Sérgio, só que não sabe. Acabaste de completar dezoito anos de uma coisa, dezesseis de outra, sete de sei lá mais o que. Viver é uma efeméride. Só que a gente percebe isso dois segundos antes de vestir o paletó de madeira." IL ¹




Pois é. Hoje por exemplo é aniversário de uma efeméride coletiva. Vinte anos atrás um estudante, nesta larga avenida, postou-se à frente de uma coluna de tanques que se preparava para entrar na Praça da Paz Celestial em Pequim.A imagem² e o fato são famosos.
Reproduzo o texto do Flavio Gomes sobre o evento, afinal ele escreve muito melhor que eu :

"
SÃO PAULO (a China não viu) - 4 de junho de 1989. Depois de semanas de protestos contra o governo, jovens estudantes chineses foram massacrados na Praça da Paz Celestial pelo Exército do Povo. Ninguém sabe exatamente quantas pessoas morreram. O governo divulgou um número, 241. Há estimativas que falam em mais de duas mil mortes, outras em até sete mil. Na manhã seguinte, a imagem do rapaz que detém uma coluna de tanques armado apenas com sua voz, seus gestos e seu olhar roda o mundo e se transforma no símbolo de uma revolução que só não foi derrotada por aquela coluna de tanques. No resto, perdeu em tudo, em questão de minutos. Não houve diálogo. De nenhum dos lados, nem do governo linha-dura, nem das lideranças estudantis radicais dispostas a morrer ali mesmo, na praça. Chinês não gosta muito de conversar, muito menos de ceder. Todos os países do mundo condenaram a China pelo massacre de Tiananmen. Menos de 20 anos depois, estavam todos eles no Ninho do Pássaro batendo palmas para a mesma China — agora mais rica, parceira comercial essencial para o resto do planeta.

O rapaz que deteve os tanques nunca foi identificado. Hoje, farei um brinde a ele e a todos os chineses com quem troquei sorrisos no mês que passei em Pequim no ano passado. Muitos deles não sabem direito o que aconteceu na praça há 20 anos. Não os culpo"



Medito: sinal dos tempos. Fui a uma festa de formatura de uma prestigiada Universidade aqui de São Paulo. A principal atração musical era uma destas plastificadas e banais duplas sertanejas. Prefiro os estudantes de antigamente, por ex. como este chinês, que eram " do contra".


¹ Extraído do livro Eles Foram Para Petrópolis - Uma correspondência virtual na virada do Século - Ivan Lessa / Mario Sergio Conti . Cia das Letras - 2009
The P.S.C. Review of Books recomenda . Ô se recomenda.

² Não resisto, lá vai o vídeo, é mais impactante que a foto.



20 comentários:

jayme disse...

Os chineses disseram alto e bom som a seus estudantes: Tian-nam-men? Nem-vem que num-tem. Detalhe: os soldados encarregados do massacre eram de uma região cuja língua era totalmente diferente da falada em Pequim (cantonês? Pequinês? Chihuahua?), para não haver risco de ouvir as súplicas e argumentos dos reprimidos.

Patty Diphusa disse...

20 anos? nossa.E que cena !!! Minha filha a incluiu recentemente em um trabalho de vídeo da faculdade que ficou muito legal.

E olha só o que a China se tornou nesse tempo todo de democracia sufocada, censura, exploração do trabalho dentro de casa e máquina de moer carne fora. Uma potência.
Acho tudo muito estranho e para mim continuam lembrando gremlis.

Bjs

Neil Son disse...

a imagem ficou tão famosa quanto aquela dos anos 60, do hippie colocando uma flor no cano da metralhadora do policial francês. são imagens de forte e perene impacto visual, mas temo que seu poder comece e termine exatamente aí, no terreno simbólico imagético. só isso, infelizmente.

Anônimo disse...

Foi a cena de mais coragem que vi ao vivo ( ou quase )!

peri s.c. disse...

Êta memória, Jayme. Verdade, os soldados falavam outro dialeto.

peri s.c. disse...

Patty
A China é um mistério a ser decifrado.
Ano passado, deixei passar o porre Olímpico e comprei o livro da Sonia Bridi sobre sua experiência de vida por lá. Interessantíssimo.

peri s.c. disse...

Neil
É verdade, um ato isolado devidamente fotografado ou filmado não muda estruturas.

A compreensâo da Guerra do Vietnã só aconteceu com a massiva cobertura de imagens da imprensa. Tanto que depois, os americanos nunca mais deixaram os reporteres acompanharem de perto o que aconteceu nos fronts dos conflitos posteriores.

peri s.c. disse...

Eduardo
Não lembro de outra tão marcante.

roserouge disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge Pinheiro disse...

Num programa que deu na tv, os chineses (urbanos) entrevistados desci«onheciam verdadeiramente o acontecido. Isso ainda é mais grave do que ter acontecido!

sonia disse...

a ditadura dos chineses está por um fio. Com a internet e a nova geração chinesa, ninguém segura mais ninguém...hehehe

peri s.c. disse...

Sra. Comentário Excluído
Li seu comentário ( o envio é automàtico para o e-mail ) ficou com medo de ter sua casa cecada por um enxame oriental ? ah, ah

peri s.c. disse...

Jorge
Se a midia não deu,
não aconteceu.
Censura, em suas mais variadas formas , funciona.

peri s.c. disse...

Sonia
Eles tem 5.000 anos de cultura e não tem pressa.
Esse fio que você cita pode durar um século.

Anônimo disse...

Peri,

é repetitivo, mas nunca será demais dizer que foi/é muito impressionante.
Quando agente pensa que já aconteceu tudo, o estudante ainda escala o tanque...
Pra mim, esse fato é sobremaneira especial, por um motivo muito pessoal: aconteceu no dia do meu aniversário. Aos 49 anos, foi um belo presente!

Beijo

Vivina.

Silvares disse...

As posições actuais de todos os governos do mundo democrático, baixando a cabeça perante a China até quase tocarem os joelhos com a testa, mostra bem até que ponto estamos mergulhados na porcaria. O tempo dos idealismos já lá vai. Alguém os comprou e deitou-os ao rio, enfiados num saco com uma tonelada de moedas no fundo. Resta o cinismo das conversas da treta.

peri s.c. disse...

Vivina
A China é um país muito louco.
beijo

peri s.c. disse...

Silvares
As ideologias políticas, de estado e pessoais vigentes são : " onde vamos faturar algum?".

guga disse...

Muito pertinente!
ver tb: http://www.novoaemfolha.com/2009/06/mas-acre.html
abçs

peri s.c. disse...

Guga
Visto.